20 de setembro de 2012

Balões de água discretos que não sabem esvaziar

Sou o tipo de pessoa que não solta o choro às vezes, é como se eu sentasse na cadeira e sentisse um balão dentro do peito se enchendo. E eu sei que é o choro que quer sair, mas não sabe como, porque quando ele tentou ir embora eu estava no meio daquelas pessoas e o prendi. Quando ele quis cuidar de mim, eu disfarcei e o deixei acumular.

A primeira coisa que faço para manter o choro preso é me distrair. Foco no projeto que preciso entregar no dia seguinte, dou um pulo rápido no banheiro para evitar as gotas pulando para fora e disfarço indo pegar algum copo de água. Se eu conseguisse pelo menos chegar em casa antes do balão estourar já seria ótimo, mas às vezes não dá. Esses dias eu fiquei pensando se as pessoas que choram no metrô se sentem mais confortáveis no meio de desconhecidos, do que no escritório com os colegas de trabalho durante mais um dia aparentemente normal. Aparentemente normal.

O ruim de tentar se distrair é que quando você realmente pode esvaziar, o negócio que estava pesando no peito não vai embora. É como se os nossos balões precisassem de plateia e a gente não soubesse, e é como se o corpo ainda estivesse acostumado a ganhar o mesmo tipo de colo e carinho que recebia quando chorávamos na infância. Há algo incômodo por dentro e nada explica ele não querer esvaziar quando a gente quer ou pode.



O problema de balões que enchem e não sabem esvaziar é que eles estouram de repente. Você sabe disso quando vê lágrimas caindo no meio do nada ou no meio de todo mundo. Às vezes a gente não precisa nem chorar quando elas vazam sem inundar nenhum tipo de poro ou passar por alguma camada de pele. As gotas apenas começam a cair uma por uma bem em cima do estômago, de um jeito que qualquer alimento ingerido provocaria um acidente, de um jeito que a gente só consegue se controlar ficando quieto e sério. Balões cheios por dentro não podem encontrar espaços para fora. Se abrirmos a boca, o ar já ameaça faltar. Se alguém chegar mais perto, o corpo já pede colo.

Quando você sente um balão enchendo e não quer soltar é uma agonia enorme. Uma agonia que você despreza com todas as forças para ela ir embora e voltar mais tarde. Balões cheios são perigosos, pesam no peito, no corpo e de um jeito que às vezes mal dá para andar. Hoje há um balão sozinho dentro de casa que não sabe esvaziar. É como se ele quisesse algum tipo de plateia e sozinho no espetáculo, desistisse de se apresentar. É como se o corpo sentisse falta de algum tipo de balanço parecido com o que recebia na infância quando começava a chorar. Ou talvez ele só esteja me castigando por eu não ter deixado ele ser frágil, por eu ter me feito de forte e não ter deixado ele se soltar. Por eu ter esquecido que ele era humano no meio de todos aqueles humanos que também carregam balões de água e os forçam a ser discretos, como se existisse uma hora certa para esvaziar.

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