23 de dezembro de 2011

Os olhos não envelhecem

Embora todo mundo fale que é maravilhoso descobrir a verdade olhando nos olhos de uma pessoa, não é isso que chama a minha atenção. Claro que foi lindo perceber que alguém me amava pelo jeito que ele me olhava. Claro também que eu já descobri que amava alguém porque não conseguia tirar os olhos da minha pessoa e muito menos escutar algumas ladainhas que ele contava. Era como se o mundo e tudo em volta pudesse parar por um instante e só sobrasse ele contando qualquer coisa que eu não conseguia escutar direito de tão mágico que era aquilo.

Mas, apesar de todas essas situações que a gente vive com os olhares e as verdades que ele nos traz, o que mais chama a minha atenção é perceber que eles não envelhecem. O corpo muda, a barba cresce, e os olhos continuam os mesmos. As rugas se assentuam, o andar fica mais fraco e os olhos da infância continuam ali.

O primeiro amor passou, as marcas do segundo já estão desaparecendo e os olhos ainda são capazes de falar o que sentem. Sem disfarces ou máscaras, os olhos sempre falam a verdade e são a única parte do corpo que não envelhece. Talvez isso signifique algo importante.



11 de dezembro de 2011

Sentir a chuva passar é como começar de novo

Não tenho conhecimentos profundos sobre o assunto, mas sei que quem segura o que sente pode enlouquecer. Nossos pais passam a nossa infância inteira nos ensinando a controlar a nossa expressividade, porque criança morde quem não gosta, berra quando é contrariada, chora quando o sono bate e responde "Sim tia, você está gorda". Eu mesma envergonhei minha mãe muitas vezes.

Claro que a vida adulta exige que evitemos falar sobre o peso de alguém ou agredir quem não gostamos, por mais que desejemos isso. Aprendi a esconder o que eu sinto, assim como você, só que algumas vezes a gente esconde o que não é para ser escondido e é aí que dói mais.

Acho que temos que deixar de lado algumas amarras para sentir tudo que devemos sentir quando as coisas acontecerem, sejam elas boas ou ruins. Claro que não podemos falar do peso da tia, mas podemos evitar pessoas que não gostamos, chorar alguns minutos quando o trabalho estiver realmente pesado e morder todas as mágoas que ficaram de quem nos machucou, ao invés de fingir que elas não existem ou manter contato por educação. Eu mesma me enganei muitas vezes.

Se está chovendo agora, deixe-se molhar. Sinta de verdade o frio e cada poro da sua pele. Quando a chuva passa a gente se sente outro, porque realmente sentiu o que tinha que sentir deixando a parte ruim ir embora do corpo. Aí é só entrar em casa, tirar a roupa molhada e se aconchegar em algo quente, que costumo chamar de companhia, música, projeto ou qualquer outra coisa.

Chover faz parte do ciclo, não adianta fugir ou fingir que está tudo bem. Ser sincero conosco quando realmente estiver doendo é uma escolha que a gente dá conta de cumprir. Escolha sair no quintal de peito estufado e aguente todas as gotas. Sentir a chuva passar e ver que a sua roupa molhada foi pro canto é como começar de novo só com coisas boas.


Obs: O cara da foto leva a vida de um jeito que admiro. Estávamos conversando banalidades por e-mail quando ele me enviou essa foto dizendo que foi revigorante tomar chuva gripado. Ele me fez ficar pensando em todas as gotas que, mesmo doendo, deveríamos sentir e não sentimos.