27 de agosto de 2013

Se eu não tivesse escutado sobre as Orquídeas

Outra canção by Leo Fressato on Grooveshark

Se a minha mãe não gostasse de orquídeas, eu nunca descobriria que existem plantas que florescem difícil. Eu não saberia, por exemplo, que alguns tipos de orquídeas demoram de dois a quatro anos para ter a primeira flor, mesmo cuidando da maneira certa e as deixando livres de ataque de larvas ou bichos. Eu nunca quis uma orquídea, porque eu sou daqueles seres humanos de natureza quase imediata. Se eu cuido, rego e adubo: eu quero uma flor.

Mas o problema é que a minha mãe gosta de Orquídeas, e sempre gostou. E eu aprendi a admirar desde pequena quem, pacientemente, espera por um florescimento difícil. Isso porque eu achava complicado ter tanto empenho por algo que vai demorar para nascer. Não sabia nem que, em algumas fases da vida, a gente vai adubar muita coisa mesmo com a possibilidade de algo nunca florescer. 

Se a minha mãe não gostasse de orquídeas, eu não teria descoberto cedo que tenho dificuldades em mexer com a terra, que eu nunca sei o quanto expôr ao sol e que eu esqueço mesmo de regar a planta todos os dias. Eu desistiria e largaria mão, optaria por uma outra muda, uma roseira ou um pé de amora, quem sabe? 

Mas o problema é que a minha mãe gosta de Orquídeas e me disse há muito tempo atrás que algumas plantas florescem difícil. Me ensinou que nem todo mundo nasceu para ser orquidófilo, e que era para eu ter um profundo respeito por todos os donos de Orquídeas Floridas que não são compradas prontas. E também por todas as que, depois de dois ou quatro anos, seguem o percurso da natureza e se permitem sair para o mundo.

Eu nunca quis uma orquídea, porque eu sou daqueles seres humanos de natureza quase imediata. Se eu cuido, rego e adubo.. eu quero encontrar uma flor na minha janela. Roseiras, Girassóis e Zinnias germinam rapidamente e são mais fáceis de cuidar. Pés de goiaba, amora, pitanga e laranja nos dão segurança pelo ciclo de que tudo o que a gente planta e cuida, certamente vai nos dar frutos na próxima estação.

Mas o problema é que eu encontrei uma Orquídea no meu caminho. E ela é tão linda que eu aceitei cuidar dela sabendo que talvez ela não floresça na próxima primavera. Eu aprendi a sentir gosto pelo simples mexer na terra e adubar o necessário. Tem me alimentado até olhar na janela e ver que ela ainda está por ali fazendo as suas próprias coisinhas, com a sua meia-luz de sol necessária do dia. Pelos motivos de sua própria natureza, eu aprendi a entender (e até esperar) pacientemente o seu florescimento difícil, mesmo sem saber muito sobre o seu percurso de se permitir sair para o mundo.

Eu nunca quis uma orquídea, mas não tive escolha e nem opção de voltar atrás quando a encontrei pelo caminho. Aconteceu. É muito loucura decidir ficar e cuidar de uma planta dessa espécie, eu sei. Talvez seja até um pouco desapontador não desistir de um dia ver a flor nascer. Mas tudo bem, nem todo mundo nasceu para ter uma.

Ah mãe, se você não tivesse me contado sobre as Orquídeas... eu jamais iria compreender os corações desse tipo.

Letícia Cardoso

20 de agosto de 2013

Será?

Na ponte das meias decisões, ninguém tem certeza de qual é a certa e qual é a errada.

Meias decisões fazem parte daquele tipo de situação em que você se depara com uma coisa certa que pode dar errado depois. Ou uma coisa que parece errada, mas tem potencial pra dar certo. Ou se não, aquela hora em que você encontra exatamente o que sempre quis, mas que poderia ter vindo antes. Ou depois. Ou talvez daqui a alguns meses, quem sabe? Mas aí, chega uma hora em que você é obrigado a tomar uma decisão diante do que apareceu na sua frente, ou literalmente caiu em suas mãos.

Na ponte das meias decisões ninguém tem certeza se a que tomou é realmente a errada. E se assim parecer, a gente nega todo o errado que aquilo pode ter criando alguns motivos para ter decidido aquilo. Parece errado agora, mas é o certo porque pode dar errado depois. Parece errado agora, mas é melhor assim porque eu não estou pronto. Parece errado agora, mas lá na frente eu vou ver que eu deveria ter feito isso. A gente tem uma capacidade enorme de fazer tanta coisa parecer errada só para mentir pra si mesmo ou tirar algum peso de "consequências" das costas.

No final das contas, por mais que pareça certo ou errado, só a gente vai ter que lidar com o que poderia ter sido e não foi. Do que deveria ter sido e nunca será. Do caminho que era para ter vindo e nunca virá e assim por diante. 

Eu tomei uma decisão, mas e se..será?

A gente nunca vai saber direito o outro lado. 

Letícia Cardoso

5 de agosto de 2013

Primeiro um desespero, e depois uma calma

All I Want by Kodaline on Grooveshark

Há quem diga que eu busco respostas muito "no preto ou no branco". Que nem tudo "é" ou "não é", e que é preciso pensar sempre no “depende” antes de qualquer resposta racional que eu procure para uma pergunta. Que eu enrolo, mas no final das contas, eu acabo me entregando a uma necessidade maior de se viver do que necessariamente medo de me machucar. Mesmo que não haja respostas ou decisões definitivas. Existe alguma?

Li uma entrevista esses dias em que, durante uma pergunta sobre a juventude atual, a atriz Letícia Sabatella disse algo como “A gente tem que ter um certo cuidado com a nossa capacidade de viver a vida intensamente e de querer mudar as coisas. E também com a nossa capacidade de amar e querer ser incrível com alguém, porque tudo isso é muito precioso”. Ela finalizou dizendo que somente os jovens tem essas sensações de uma forma desesperadora, e que é por causa disso que eles mudam o mundo.


Para mim, ela quis dizer que nós - jovens, adultos, pais, filhos, avós e qualquer pessoa na terra - temos que cuidar de todas essas coisas, porque elas são muito frágeis e deveriam durar. Por isso existe essa necessidade de proteger o que se é ou o que se tem em quase todas as situações do caminho. Há uma vontade enorme em se jogar de cabeça, mas ao mesmo tempo um medo absurdo de cometer um erro. Poucos são os que se arriscam sem pensar, seja em um relacionamento, um emprego ou qualquer primeiro, segundo ou terceiro passo. A gente sempre pondera, porque algumas decisões machucam e podem doer por um bom tempo. E mesmo assim, a gente  - jovens, adultos, pais, filhos, avós e qualquer pessoa na terra - ainda consegue mudar o mundo.

Mas sem pensar no meio-termo, eu digo que a maioria das coisas nunca duram. Elas tem um prazo de intensidade e frieza, de certeza e dúvida e tantas outras coisas que fazem parte da nossa existência aqui. Eu digo que, em algumas fases, a vida parece muito ser um lugar para um monte de coisas ruins acontecerem. Eu digo que tem dias que a gente não vive, apenas sobrevive. E ainda tem que agradecer por isso, porque algumas sobrevivências são melhores que outras.

"Lembre-se que toda pessoa que você conhece tem medo de alguma coisa. 
Ama alguma coisa. E perdeu alguma coisa."
A questão é que eu cheguei a conclusão de que nada vai ser como a gente quer ou espera. Eu entendi que cada um tem a sua história e olhando para a minha e para a sua, leitor, há realmente coisas que a gente nunca vai superar. Há também pessoas que nós perdemos para sempre e momentos que não acontecerão novamente. Há chances que não virão pela segunda vez, ponteiros de relógio que nunca vão parar de voar e sonhos que vamos desacreditar e, mais tarde, voltar a acreditar novamente. 

Mas sem cuidado algum, eu digo que existem outros lados. Eu acredito que ao mesmo tempo em que a vida te bate, ela te acaricia. Do mesmo modo em que ela dificulta, ela te dá força e sorte. Eu digo que as pessoas que ela tira, ela te devolve. Que não importa aonde nascemos, nós sempre acabamos encontrando uma relação de nível familiar em alguém que nem é do nosso sangue. Penso que tem gente que aparece apenas para envelhecer algumas feridas e nos ensinar a começar de novo. Acho sim que, dependendo da situação, dá pra voltar atrás e fazer - ou tentar ser - melhor. E acredito que as coisas frágeis  nos apontam o que é precioso. E a gente não pode parar de repetir nada de precioso nesse mundo. 

O futuro pode não ter a “roupagem” que desejamos, mas ser bom do mesmo jeito. Acredito de verdade que entre decisões certas e erradas do passado, o lugar aonde você se encontra agora é exatamente aonde você deveria estar. A gente vive o mesmo tanto que sobrevive e ganha o mesmo tanto que perde. É dessa forma que prefiro olhar os caminhos, enquanto sigo procurando decisões que causarão menos dor, mas depois me entrego ao fato de que as coisas que a gente precisa viver podem ser muito mais importantes e gostosas do que o nosso medo de nos machucar. Ou de errar. E talvez essa seja a coisa mais difícil de se decidir sobre qualquer questão, principalmente porque não existem decisões e respostas definitivas. Tudo pode mudar.

A vida é a maior loucura que existe com todas as suas coisas boas e ruins, e viver intensamente é passar por tudo isso. E não importa o número de conselhos que as pessoas vão nos dar, algumas coisas a gente só consegue fazer quando está pronto. Do nosso jeito. No nosso tempo.

Seja a ferro e fogo ou equilibrado, na razão ou na emoção, no impulso ou na calma, não importa. Na dúvida: escolha simplesmente viver. Do seu jeito. No seu tempo. Só não se esqueça de que decisões fazem a vida andar, principalmente porque não há como viver no meio-termo. Ninguém vai me tirar da cabeça de que não existe "depende" pra isso. Existe?

Há um sentido para nascermos chorando e depois nos acalmarmos na segurança do colo de alguém que nos ama, ou no berçario com uma galera que está passando pela mesma coisa. A vida, e o resto dos anos, vão funcionar da mesma forma: primeiro com um certo desespero de fazer chorar e depois alguma calma.

Primeiro um desespero, e depois uma calma. Vale desistir por causa da primeira sensação?

Letícia Cardoso