28 de novembro de 2013

E essa mania de falar em passarinhos?

Há um passarinho cantando na minha janela todos os dias às sete e vinte. Faz mais ou menos seis meses que eu acordo com ele cantando sem me importar se isso interrompe o meu sono de vez em quando. Ou o meus sonhos. Ou os meus planos.

Já procurei pelo telhado e não há ninhos. Já tentei olhar pela fresta, mas nunca sei onde ele fica. Nunca o vi de fato, e nem sei porque esse passarinho escolheu a minha varanda no meio de tantas outras pra cantar. Não tenho plantas, não deixo flores e nem água pra beber e mesmo assim ele volta todos os dias. Existe apenas a minha janela e eu dormindo ou acordando do outro lado. Fico desejando sair para ver como ele é ou até mesmo ser igual ao meu avô, que nasceu no interior e tem facilidade de reconhecer um passarinho pelo canto que ele tem. Mas no final das contas só fico escutando ele cantar do outro lado.

Eu costumava acreditar que pássaros escolhem a sua morada para cantar quando ela é cheia de plantas, como se isso pudesse o lembrar de algum habitat muito distante. Mas isso não acontece com o meu passarinho, e ainda bem que ele tem asas para escolher cantar aonde bem entender. 

Penso seriamente em demorar a abrir a janela pra não invadir bruscamente o seu espaço e a liberdade que ele tem de escolher a minha varanda para cantar, mas amanhã deixo flores e água só pra ele saber que existe alguém ali para o escutar todos os dias. Sempre é bom alguém invadir um pouco o seu espaço pra mostrar que se importa, ou que existe, ou que você melhora o dia. 

Faz mais ou menos seis meses que um passarinho interrompeu minha rotina de sono habitual e os meus planos de dormir até mais tarde. No final das contas, eu descobri que é bom alguém aparecer de repente e mudar o decorrer das coisas. Foi assim que eu comecei a gostar do passarinho: escutando ele voltar todos os dias com a sua cantoria, mesmo comigo nunca deixando quase nada em troca. 

Letícia Cardoso