12 de fevereiro de 2014

A hora do sim é o descuido do não

"...e apesar de tudo eu penso sim, 
eu digo sim, eu quero Sins"
Caio F Abreu em "Extremos da Paixão"

Sempre admirei essas pessoas que conseguem esperar pelos sentimentos dos outros, ou até mesmo aguardar a ferida desse outro passar. Pra mim, elas são todas corajosas, altruístas e extremamente pacientes. Das histórias que eu conheço, muita gente permaneceu e conseguiu chegar lá: no sim.

Mas aí, eu fico me perguntando: Como eles fizeram? Como eles conseguiram esperar pelo outro com a incerteza do que poderia acontecer? Ou melhor, como eles conseguiram deixar o próprio passado de lado e ignorar as possíveis complicações futuras e solitárias, caso o sentimento do outro não nascesse ou a ferida não fosse curada? Alguns processos alheios são muito íntimos e solitários pra gente querer dar conta.

Isso porque eu sempre enxerguei que relacionamento é uma mão de via dupla, uma questão de reciprocidade. Não dá pra dirigir nessa estrada sozinho, pelo menos não durante muito tempo. E os que dirigem sozinhos estão, na maioria das vezes, indo em direção a alguém. Ou fugindo de outro alguém. Sim, porque nós às vezes temos disso de entrar em relações que nos ajudem a esquecer pessoas. Não que isso seja errado ou não possa dar certo. Pelo contrário, dirigir fugindo de alguém pode realmente funcionar. Afinal, a gente nunca sabe o que vai acontecer ou quem vai encontrar na estrada. 

Mas, quem cuida das nossas feridas quando a esperança acaba? O que a gente faz quando o outro não vem na nossa direção? Quem fica por nós quando já não importa mais qualquer tipo de prêmio, e sim quem vamos encontrar na linha de chegada? 

O ponto aqui é que talvez eu não esteja fazendo as perguntas certas, ou até mesmo não esteja enxergando a verdade das respostas. É difícil pensar sobre esperar pelos sentimentos dos outros, ou dar-lhes algum tempo e espaço para as feridas sararem, porque fazer isso é conseguir ignorar os próprios medos e frustrações pela possibilidade de encontrar esse outro no final. Algo que também pode não acontecer. É aquela eterna coisa de plantar e colher no qual muitos se machucam sem entender as voltas que o mundo dá, e outros conseguem realmente chegar lá.

Não sei, talvez a lição seja não desistir. Talvez a gente tenha mesmo que ficar até o final pra ver no que vai dar. Talvez a questão seja que não há outro jeito a não ser permanecer e arriscar. Mas, como os que conseguiram sabiam que um dia esse outro diria sim? Como a gente sabe quando deve esperar ou quando deve desistir? Certeiro mesmo foi Drummond resumindo o motivo de toda espera, tentativa ou falha em uma simples e importante busca. "Este o nosso destino: amor sem conta, distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma completa ingratidão, e na concha vazia do amor, há a procura medrosa e paciente de mais e mais amor". É.

E apesar de todos os vazios, eu ainda espero, eu acredito, eu me dedico, eu acabo procurando - medrosa e paciente - pelo sim.

Letícia Cardoso

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