11 de janeiro de 2013

A saudade que pediu permissão para não existir

Kiss Me by Ed Sheeran on Grooveshark

Hoje a saudade sentou no pé da cama e me perguntou se deveria existir. Ela disse que tem andado por todos os cantos da casa nos últimos dias sem saber do meu futuro e isso incomodou a sua permanência por aqui. Foi então que ela entrou no meu quarto, olhou nos meus olhos e perguntou se realmente deveria estar ali.

Antes de falar sobre mim e todas as outras vezes em que esteve presente na minha vida, ela começou a explicar o quanto é difícil viver na Terra do Sentir Falta. Descobri que há uma série de saudades espalhadas pelo mundo como se fossem anjos, cada uma com a missão de nos tocar em determinadas horas. Elas andam conosco, se identificam com alguns trechos dos nossos livros, escolhem a música que toca inesperadamente no carro e visitam todos os lugares que a gente tem vontade de voltar, mas não pode ir. Descobri que essa é a principal função da saudade: ir aonde nós não podemos ir.

As leis democráticas obrigam os cidadãos saudadianos a nos fazer aprender a importância de viver a vida com totalidade. A constituição exige que eles se relacionem diretamente com os nossos sentimentos, de modo que seja possível sentir o que sentimos para nos fazer descobrir que determinadas coisas são importantes. A missão mais leve imposta a eles é a de nos tocar de vez em quando para trazer algum tipo de alegria ou acalmar o nosso coração. Já a pior missão de todas é ensinar um ser humano rebelde a dar um sentido à existência saudadiana. Isso porque o sentido de algumas saudades é exatamente esse: a de que elas precisam existir para que a gente possa descobrir o quanto precisamos matá-las. 

As missões mais complicadas são acompanhadas pelo Ministério da Justiça Nostálgica, órgão responsável por olhar as histórias humanas e exigir que a melancolia interfira no processo quando o caso for muito complicado. O objetivo é fazer com que alguns seres humanos aprendam a importância em deixar o orgulho e outros sentimentos confusos de lado para fazer a coisa certa. Que coisa certa? Só a saudade responsável por cada um de nós pode responder.

Hoje a saudade sentou no pé da cama e me perguntou se era prudente deixar ela existir. Quis saber quando eu pararia de ser  um humano rebelde que disfarça o que sente e faria o que é certo fazer. Eu não soube muito bem o que responder, porque no meu mundinho ela sempre foi coisa que se sente, se dói e se espera passar. Além disso, toda vez que senti alguma falta, confiei que o tempo faria algo para ajudar.

Ela se surpreendeu com a minha resposta e disse que o tempo dessa vez poderia não me oferecer ajuda alguma. Cortou o meu coração quando disse que no Mundo do Sentir Falta, as saudades que não provocam um final feliz são condenadas a serem tristes, e que se eu não percebesse logo o sentido da sua existência nós duas iríamos nos machucar por um tempo.

Hoje a saudade entrou no meu quarto e resolveu me acordar. Me colocou contra a parede quando perguntou se realmente não havia mais o que fazer, se não dava mais mesmo para tentar. Colocou todos os meus pedaços no chão quando olhou nos meus olhos e perguntou como que os seres humanos aguentam quando uma saudade é condenada a ser triste, e irrevogavelmente, obrigada a ficar.

Letícia Cardoso

2 comentários:

Liihs disse...

Okay, acabei de comentar no seu post anterior, mas não resisti e vou ter que comentar aqui também.
Sério, sua mente é uma coisa linda! Haha! Você já pensou em escrever um livro? *-*

Letícia Cardoso disse...

Já pensei e ainda penso.
Se um dia isso acontecer, deixarei um recadinho bem bonito no livro que darei pra você ;)