9 de maio de 2011

De tudo ao meu amor serei atento antes

Eu cheguei mais cedo. A intenção era ter tudo o que eu queria dizer certinho na cabeça e na ponta da língua. Eu sou daquele tipo de pessoa que quando o sentimento aparece as palavras somem. Então, eu precisei de um preparo. Fiquei lá naquele silêncio todo treinando e tentando lembrar de todos os pontos, todas as questões, os medos, as esperanças, inseguranças e todo o futuro - sempre inesperado futuro que eu tento moldar.

Levantei. Será que eu cheguei cedo demais? Será que eu deveria estar aqui? Era um lugar sem espaço para palavras bonitas, com pessoas apressadas que quase não observam paredes, com gente correndo pra lá e pra cá. E eu ali, parada com o coração na mão.
Comecei a olhar pro chão e a recitar Vinícius. Esqueci o Pessoa. Lembrei de Caio - sempre Caio. Me vieram trechos de Clarice, Maria Clara e Bernardo. Mas fiquei lá estranhamente recitando Vinícius. A hora não passa, o minuto não chega e eu não sabia o que fazer. Abri o livro, fechei o livro, liguei a música, desliguei a música.

Vi no fim daquele imenso corredor a minha realidade chegando. E não querendo, mas com toda a força do mundo, eu desisti. E não teve nenhuma ligação com falta de luta ou preparo, foi preciso uma grande coragem para desistir, soltar as mãos e não olhar pra trás.
Perdi o fôlego, segurei o choro e saí. Não havia mais nada que eu pudesse fazer, ser, ou construir. E mesmo eu não querendo, o Vinícius se encantou comigo e quis ficar em mim. Então eu levantei, olhei para a vida e fim... era o meu infinito acabando ali.

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