6 de julho de 2012

Liberdade, séc. XXI e solidão

Dias desses tive uma conversa de bar com um velho amigo, que entre um copo de bebida e outro, disse estar se sentindo velho demais para a vida de solteiro. Concluímos que apesar de todos nós sermos livres o bastante para sairmos em um sábado e curtir uma noite de beijos e abraços com qualquer um, de vez em quando temos dificuldade em lidar com o fato de passar os outros dias da semana sozinhos. A verdade é que a gente é a favor da liberdade, mas não consegue lidar com a solidão.
 

Mas, será que a gente sabe o que é ser sozinho? Mário Quintana escreveu uma vez que 
"Só Deus - que é único, que não tem par - pode dizer o que é a solidão". Será?

Quando eu era pequena, eu achava que os moradores de rua eram as pessoas mais solitárias do universo. Eles ficam sozinhos pelas ruas carregando o que podem carregar e nos vendo andar de lá para cá contra o tempo. As pessoas que moram na rua tem todo o tempo do mundo e muitas vezes não tem para onde, ou para quem, voltar. Que solidão pode ser mais difícil que essa? Mas aí eu cresci e percebi que grande parte das pessoas solitárias desse mundo estão sempre correndo contra o tempo e cheias de pessoas ao seu lado. É até triste pensar muito sobre isso. Não somos mendigos e muito menos Deus, mas sabemos o que é solidão.
"This song says, uh: No matter who you are, no matter where you go in life, in some point you go need somebody, to stand by you."
A gente nasce e morre meio que sozinho. Todo mundo quer - e tudo bem querer - uma companhia nesse intervalo. Somos a favor da liberdade exatamente pelo fato de não conseguir lidar com a solidão. E mesmo assim, não nos sentimos confortáveis, satisfeitos ou completos... talvez. Não sei você, mas a liberdade que o meu amigo quer ter aos 20 anos tem mais a ver com a facilidade em se conectar com alguém do que simplesmente curtir o momento. Chega uma hora em que, inconscientemente, nós já estamos pensando sobre o que teremos para contar. Lá no fundo, a gente não quer uma noite de beijos e abraços, nós queremos uma companhia. Não queremos carinhos e bons papos, nós queremos conhecer uma história. 

Não estamos velhos demais para a vida de solteiro, apenas novos demais para nos sentirmos solitários.  Acredito que conhecer uma pessoa de fato tem muito mais a ver com olhar nos olhos e, por meio da conversa, descobrir  que nos encontramos nela. 
O que falta para alguém se sentir acompanhado? Encontrar uma pessoa para se sentir conectado.

Essa liberdade é uma delícia,
 mas desculpa, acho que estamos fazendo tudo errado. Em pleno século XXI, onde é cada vez mais fácil ficar com uma pessoa que nos chame a atenção, nos sentimos sozinhos pelo fato de que ser livre para sair em um sábado e curtir uma noite de beijos e abraços com qualquer um não é o suficiente. A verdade é que chega uma hora que sentir pouco - ou quase nada - também cansa e não preenche.  

Letícia Cardoso

Um comentário:

Nayara Fernandes disse...

É por causa de textos como esse que vir aqui sempre deixa meu dia um pouco mais leve. Parabéns, Lê :D